quinta-feira, 21 de março de 2019

Mini curta de humor para cinema

Duas amigas encontram-se e falam pelos cotovelos de assuntos vários de circunstância até que uma pergunta à outra:
- E tu amiga, como vai isso de vidinha activa? piscando o olho e dando a entender a vida sexual
Passa a preto e branco em câmara lenta e ela começa a fazer um sorriso amarelo que desliza para uma cara de desespero enquanto se ouve a Lacrimosa de Mozart.

terça-feira, 19 de março de 2019

No recreio 002

Coisas a calar.

Tenho a sorte ( ou a opção?) de viver suficientemente perto de onde trabalho pelo que posso dispensar qualquer tipo de transporte e não despender mais de 15 minutos a fazer o trajecto. O actual governo, a meses de eleições, resolveu fazer uma colossal baixa do custo dos passes ( atenção que não estou a falar na vertente de justiça, ou outra qualquer!) de modo a apanhar mais uns papalvos.

Apetecia-me provocar as pessoas e pedir a cada uma delas a minha parte do desconto, pois é com os meus impostos que eles vão ter essa redução do preço.

Como não frequentam o ginásio, vou continuar calado para salvar o que resta da minha integridade física e outra.

Na recreio

- Vais almoçar sozinho?
- Não! Levo o telemóvel.

Dia do Pai

Cá voltamos à comemoraçãozinha daquele que com o seu contributo fez acontecer vida.


O meninos pequeninos que sem fazer a ideia porquê, são levados ao seu pai, alguns com uma gracinha na mão, na sua inocência usual. Dão e recebem beijos, e até abracinhos.
Há, depois os que celebram a memória dos que já cumpriram o seu tempo. Voltam ao amor virginal, pois que pouco importa o que ficou pelo caminho.

Os restantes sentem, mais ou menos, um festejo tão vago e ténue como se festeja a primavera.

Não são os afectos que se diluem, é, por ventura, a imagem lateral e quase irrelevante que desde os tempos imemoriais, através da figura de São José, nos habituamos a ver o Pai. Em silêncio, e zelosamente, leva nos seus ombros todas as cargas.   

quinta-feira, 14 de março de 2019

O que olho

Da minha janela
Observo a vida alheia
Com a curiosidade da ociosidade

À minha frente
Reconheço a miséria humana
Com o desinteresse da monotonia

A espuma do tempo

Nos meus dedos persiste o cheiro da cebola que cortei e depois piquei. Num pequeno tacho deixei em azeite a amolecer. Juntei-lhe a carne e os temperos. Apurou. Fez-se acompanhar de um arroz branco, em grupo, com goma e tudo.
Levantei a mesa, arrumei a cozinha. Lavei os dentes e a cara e dormi a noite inteira. Depois de acordar voltei a lavar-me, todo. Tomei o café matinal e novamente me lavei.

E nas minhas mãos persiste a cebola refogada...  Estou capaz de colocar a mão de molho para fazer, logo, uma canja.

Passeio

Vinda de uma memória
Ainda  a preto e branco
Percorria uma aldeia vivida
Cada recanto, um encanto
O chão era duro e gasto
Redondo de tantos pés descalços
As chaminés estavam caladas
Assim como as ruas e os becos.
Só falavam a largura das vistas
Nas casas as grandes pedras,
Feitas de rochas recortadas
Entre pequenas linhas de musgo.
E nesse passeio vagaroso e deslumbrado
Perguntava-me
"Como seria dormir aqui?
"Nesta paz tão silenciosa..."

Liguei o carro e parti.

terça-feira, 12 de março de 2019

Vidas profissionais

Instala-se a luta psicológica. Nunca se sabe quem perde mais, se o menos resistente, ou o mais crudelmente atacado. Também aqui chegados, não há vitórias expectáveis.

sábado, 9 de março de 2019

Ensinamentos da vida

Não peças a um simples para te entender. Escuta-o e filtra o seu discurso. E, se necessário for, suspende-te de falares. Serás melhor entendido.

Poema

Recorro à memória
E vejo espaço brancos
Vazios de conteúdos
Lugares de nada.
Não são, definitivamente,
Memórias de amor.

A mesa de cabeceira

Na minha mesa de cabeceira
Acumulo e empilho livros
São intenções que ganham pó
Olho-os pelas lombadas
E revisito as intenções
Noto, todavia,
que fui perdendo a oportunidade.

Fecho a porta

Com uma frase apenas
Abre-se toda a surpresa,
A imensa angústia,
A triste confirmação
Da instalada desilusão

.....Sim, errei...
Sussurro aos gritos apenas ao meu ouvido

Mas a culpa foi tuda tua
Em plenos pulmões
Para que para longe fuja
O remorso e a consequência
Da frase repetida
E confirmada

E sem ar para respirar
O que se segue
Não há já oxigénio que reste
No espaço carbonizado
E reduzido às cinzas
Que, com a sua leveza
Serão um peso tortuoso
Na consciência que o seja.

Fecho a porta.

Cinema

Fui ao cinema
Sozinho e apenas comigo,
( mas como se trago comigo
Sempre o meu mundo)
E sentei-me a ver a fita...

Como era de esperar,
Com esta vi tantas outras,
Não no ecrã
Mas na minha memória
E passei por elas
Como vou passar por esta

Porque trago comigo
O meu mundo, sempre.

Lendo 002

"(...) mas tudo muda, os conhecidos
tornam-se amigos e depois desconhecidos."

Pedro Mexia, in Poemas escolhidos, Tinta da China, Lisboa, 2018, pág. 10

Pedro Mexia referia-se, neste poema, sobre o que fazer das agendas que insistimos em manter e acrescentar mais um nome, mais um contacto, escrever a várias cores, riscar números e tentar manter actualizadas em vez de recomeçar uma nova a cada novo ano. E eis que, no meio das mudanças das vidas há a nossa mudança.

Conhecemos alguéns a quem muito passamos a querer. Descobrimos imensas interligações, coisas que inacreditavelmente nos ligam para lá dos tempos até que, esse mesmo tempo nos desliga, inexoravelmente. Os amigos da infância, os inseparáveis da adolescência, os conversadores de horas perdidas, os nossos heróis e, até, os nossos amores... ficam desconhecidos....ficamos desconhecidos.

Poema e poesia

"O pó acumula.se
e depois de limpo
torna a acumular-se
no cimo das lombadas"

E quanto desse pó
Não são restos de nós
Peles mortas que por aí
Permanecem até tombarem
Como os livros
Que em nós ficam
Até tombarmos
No esquecimento.